O presente da filha de Cláudia Raia. Por Élen Santoro

Recentemente a atriz Cláudia Raia gerou uma grande repercussão de apoio e também de revolta nas redes sociais ao revelar que, em um momento de cuidado com sua filha, deu-lhe um vibrador quando ela tinha 12 anos. Essa declaração deveria ter provocado um debate intenso sobre a educação sexual e o papel dos brinquedos sexuais na formação do entendimento da sexualidade desde a adolescência. Embora o tema tenha sido amplamente discutido de maneira polarizada, é fundamental abordá-lo com seriedade e base científica, considerando as implicações para o bem-estar psicológico, emocional e sexual das/dos jovens.

   Este artigo propõe uma reflexão sobre a importância da educação sexual responsável, que busca informar e oferecer autonomia aos indivíduos, em especial aos adolescentes, sobre seu próprio corpo, consentimentos e seus desejos. O objetivo não é sexualizar, incitar ou julgar, mas promover uma abordagem aberta, saudável e educacional sobre o tema.

   A sexualidade humana é uma parte fundamental do desenvolvimento de todos os indivíduos, tenho mostrado isso ao longo dos artigos que trago aqui – aproveite para busca lo aqui. Desde a infância até a adolescência, as pessoas experimentam mudanças no corpo e nas emoções que, muitas vezes, podem gerar confusão ou até vergonha, caso não sejam abordadas de forma clara e sem tabus. A psicologia e a sexologia destacam que a educação sexual precoce e bem estruturada contribui para um desenvolvimento emocional saudável, prevenindo possíveis traumas, disfunções e promovendo a autoestima.

   A sexualidade não deveria ser tratada como um tabu, mas como um aspecto natural da vida humana, como ela realmente é. Ao proporcionar uma educação sexual sólida, que envolva diálogo aberto sobre desejos, consentimento, prazer e segurança, estamos preparando as/os jovens para uma vivência sexual mais consciente, com maior autonomia e menos sujeita a mitos e estigmas, abusos e/ou violências sexuais.

   Os brinquedos sexuais, muitas vezes associados a preconceitos ou mal-entendidos, têm conquistado cada vez mais espaço nas discussões sobre saúde e bem-estar sexual. Em um contexto educacional, eles podem ser uma ferramenta útil para a exploração e compreensão do próprio corpo, contribuindo para o conhecimento do prazer e das sensações. No entanto, é importante compreender que seu uso deve ser sempre orientado de forma cuidadosa, respeitosa e responsável.

   Quando uma pessoa é educada para entender que o prazer é uma parte natural de sua vida, ela adquire mais confiança para explorar sua sexualidade de maneira responsável e segura. Para adolescentes, por exemplo, a introdução de brinquedos sexuais deve ser feita com discernimento, baseando-se na educação, no diálogo aberto e no respeito pelos limites pessoais dessa/e jovem. O objetivo não é incentivar o uso precoce, mas oferecer ferramentas para que, caso surjam dúvidas ou curiosidade -e tenha certeza que elas virão, a pessoa possa contar com informações precisas e seguras.

   A chave para uma educação sexual saudável é a comunicação. O diálogo aberto entre pais, educadores e jovens é essencial para que se desenvolva uma compreensão clara sobre o que é saudável e seguro em relação à sexualidade. No caso de Claudia Raia, a decisão de oferecer um vibrador à filha pode ser vista como uma forma de garantir que ela tivesse acesso a informações completas e sem tabus sobre seu corpo, desde uma idade jovem. Contudo, o mais importante aqui é a forma como essa comunicação aconteceu: ela foi realizada com respeito, com o devido entendimento da maturidade da filha e, principalmente, com a abertura para discutir o tema de forma contínua e sem preconceitos.

   Estudos indicam que a ausência de comunicação sobre sexualidade pode gerar insegurança, culpabilização ou até mesmo o desenvolvimento de mitos que dificultam uma vida sexual saudável no futuro. Portanto, é fundamental que as/os jovens tenham espaços para esclarecer suas dúvidas e que seus pais ou responsáveis estejam preparados para oferecer informações adequadas à idade, sem imposições, preconceitos ou censuras.

   Quando pensamos na educação sexual de adolescentes, é importante destacar o papel dos pais e educadores em fornecer informações que estimulem a autonomia e o respeito. A autonomia sexual refere-se à capacidade de uma pessoa de tomar decisões informadas e responsáveis sobre sua vida sexual, compreendendo suas preferências, limites, direitos e deveres. Ao promover esse tipo de autonomia, estamos permitindo que as/os jovens cresçam com uma maior capacidade de tomar decisões conscientes e de respeitar os limites de si e dos outros.

    A educação sexual é um direito de todos e deve ser tratada com o mesmo cuidado que outras áreas do desenvolvimento humano, como a saúde física e mental. No caso específico de brinquedos sexuais, a questão não é “dar” ou “não dar” um toy íntimo, mas sim proporcionar as condições necessárias para que a/o jovem entenda o que isso significa em termos de prazer, consentimento e cuidado com o próprio corpo. O uso de toys íntimos, como qualquer outra prática, deve ser orientado de maneira responsável e dentro de um contexto de educação sexual que preze pela segurança, pelo respeito e pela saúde emocional e sexual. Não se trata de incentivar o uso de objetos, mas de garantir que os indivíduos, desde a adolescência, possam explorar sua sexualidade de forma consciente, segura e sem tabus.

    A atitude de Claudia Raia, quando vista sob essa perspectiva, pode ser compreendida como um ato de abertura para o diálogo e para a educação sexual. A chave está na educação contínua, no respeito à autonomia e no incentivo a um entendimento saudável sobre o próprio corpo e suas escolhas. Quando a sexualidade é abordada com seriedade e respeito, ela se torna uma parte integral de uma vida plena e equilibrada.

   Não posso deixar de escrever sobre dois pontos: primeiro sobre de quem é o dever sobre a educação sexual de crianças e adolescentes, e que se você leitor/a não está à vontade com sua sexualidade, terá dificuldade em manter a ideia proposta neste artigo, pois vergonha e preconceito não combinam com sexualidade saudável, mas esses são assuntos para outro artigo.

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