“Um dia em sua infância alguém toca teu corpo de maneira diferente e aquilo desperta sentimentos confusos. É difícil falar do que nem se sabe explicar, então o segredo se mantêm. Logo o conhecimento começa a surgir e o entendimento de que aquela situação vivida era errada gerando e a culpa e o medo. A vítima do abuso carrega em si a culpa pelo que aconteceu, o medo de contar e não ser compreendida, além do medo de causar um grande problema entre a família, pois geralmente os abusos acontecem entre pessoas de parentesco ou próximas à família.”
Eu atendo muitas mulheres em clínica cuja sequência de angústias é a que descrevi acima e apenas no consultório que conseguem verbalizar a angústia engolida e mal digerida. Algo em comum entre elas é o sobrepeso ou obesidade com grande dificuldade no emagrecimento.
Traumas como a violência sexual podem desencadear respostas emocionais intensas, levando a estratégias de enfrentamento prejudiciais, como o desenvolvimento de distúrbios alimentares ou ganho de peso significativo e ainda desencadeia respostas psicológicas, como o estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. A relação com a comida proporciona conforto temporário e uma fuga das memórias dolorosas.
Além disso, experiências de abuso sexual podem afetar a autoestima e a imagem corporal. A culpabilização interna é tão séria que a mulher desenvolve uma estratégia disfuncional de proteção do corpo através da gordura que assume a característica de uma armadura. Seu corpo perde as formas curvilíneas e simbolicamente torna se menos atraente e com aparência mais infantilizada.
A abordagem terapêutica para mulheres que enfrentaram violência sexual e lutam com questões relacionadas ao peso geralmente envolve a integração de terapias, apoio emocional e estratégias de enfrentamento saudáveis. Reconstruir a relação com o corpo, trabalhar na autoaceitação e desenvolver habilidades de enfrentamento alternativas são elementos-chave para superar as ramificações psicológicas da violência sexual e prevenir a conexão entre essa experiência traumática e a obesidade.
É importante reconhecer que cada indivíduo é único, e as respostas aos traumas variam. A abordagem terapêutica deve ser personalizada para atender às necessidades específicas de cada pessoa e abordar tanto os aspectos emocionais quanto comportamentais envolvidos nessa complexa interação. Com a ressignificação interna do trauma, o emagrecimento surge como consequência e resultado.
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Respostas de 3
Assunto importantíssimo!!
Achei rico e necessário o tema, que nos dá a possibilidade de refletir, em que muitas vezes pessoas buscam algo e não conseguem alcançar o objetivo, não porque a pessoa não quer, mas porque não tem clareza do que lhe ocorrerá, porque o trauma foi intenso que a pessoa recalcou/esqueceu, e não entende porque atua e/ou age de tal forma hoje na atualidade, que não contribui para o sucesso.
Levando a pessoa a sentimento de fracasso, e passa a somatizar, ou, seja, o corpo passa a responder por aquilo que a mente não dar conta, numa espécie de censura.
Parabéns pela rica contribuição e a possibilidade de insights partir da leitura deste.
Flávia sempre precisa em suas observações.
Uma dúvida, se este abuso ocorresse em outras idades, poderia haver resposta similar?
Exemplo: imagine uma situação dentro do casamento onde a mulher não se sente confortável com sua vida íntima. Esta situação poderia desencadear uma resposta similar?