Como Dominar o Estresse e Transformar Suas Decisões em Escolhas Inteligentes por Dalva Silvany

Imagine uma situação: você está no trabalho, seu chefe acabou de lhe dar um prazo apertado para um projeto importante, e, ao mesmo tempo, seu telefone não para de tocar com mensagens pessoais. Sentindo-se sobrecarregado, você precisa tomar uma decisão rápida sobre como priorizar suas tarefas. No entanto, quanto mais estressado você se sente, mais difícil parece tomar uma decisão racional e clara. Todos nós já passamos por momentos assim, e há uma explicação da neurociência para isso. A boa notícia é que, ao aprender a lidar com o estresse, podemos melhorar significativamente nossa capacidade de tomar decisões racionais.

Já se pegou em uma situação onde o estresse tomou conta e você acabou tomando uma decisão da qual se arrependeu depois? É como tentar tomar uma decisão importante no meio de uma tempestade – o barulho é tanto que fica difícil pensar com clareza. Dominar o estresse é como aprender a acalmar essa tempestade interna, transformando-a em uma brisa suave que permite enxergar as opções com mais clareza.

Imagine que você está dirigindo e, de repente, um carro corta sua frente. Seu instinto pode ser pisar fundo no freio ou virar o volante bruscamente, uma reação ao estresse imediato. Mas e se, em vez disso, você conseguir manter a calma e escolher a melhor ação para evitar um acidente? Essa capacidade de responder de forma inteligente, em vez de reagir impulsivamente, é o que queremos dizer com transformar suas decisões em escolhas inteligentes.

Ao aprender a dominar o estresse, você pode treinar seu cérebro para sair do “modo de sobrevivência” e entrar em um estado de avaliação mais racional. Isso significa que, em vez de deixar a amígdala, a parte do cérebro que controla as respostas emocionais, assumir o controle, você permite que o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento lógico e planejamento, tenha a palavra final.

Por exemplo, em uma reunião de trabalho tensa, em vez de se deixar levar pela pressão e responder impulsivamente a uma crítica, você pode respirar fundo e escolher cuidadosamente suas palavras, resultando em uma resposta mais assertiva e estratégica. Essa habilidade não só melhora suas decisões no trabalho, mas também em situações cotidianas, como discutir com a pessoa amada ou decidir como investir seu dinheiro. 

Ao praticar técnicas de gerenciamento de estresse, como a respiração controlada ou a meditação, você treina seu cérebro para lidar com situações estressantes de maneira mais eficaz. Assim, quando se depara com decisões difíceis, você pode transformar esse estresse em uma oportunidade para fazer escolhas inteligentes e conscientes.

O Cérebro Sob Estresse: Uma Resposta Evolutiva

Para entender como o estresse afeta nossa tomada de decisão, precisamos dar uma olhada em como o cérebro reage ao estresse. Quando nos deparamos com uma situação estressante, nosso corpo entra em um modo de “luta ou fuga”, uma resposta evolutiva que tem como objetivo nos proteger do perigo. Essa resposta é mediada pelo sistema nervoso simpático, que libera uma série de hormônios, incluindo o cortisol e a adrenalina.

O cortisol, em particular, tem um efeito profundo no cérebro. Ele prepara o corpo para agir rapidamente, aumentando os níveis de alerta e energia. No entanto, também tem um impacto significativo no córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pelo planejamento, raciocínio e controle de impulsos. Em situações de estresse agudo, o córtex pré-frontal pode ficar comprometido, e o controle é assumido por partes mais primitivas do cérebro, como a amígdala, que está envolvida na resposta emocional e na avaliação de ameaças.

Esse desvio de controle para a amígdala faz com que nossas decisões sob estresse sejam mais impulsivas e emocionais. Em vez de avaliar calmamente todas as opções e consequências, o cérebro entra em um modo de decisão rápida e muitas vezes irracional. Essa reação é útil em situações de perigo imediato, mas não é tão benéfica quando precisamos tomar decisões complexas e ponderadas, como em um ambiente de trabalho ou em relacionamentos pessoais.

Estratégias para Lidar com o Estresse

A capacidade de lidar com o estresse, ou seja, a resiliência ao estresse, pode ser desenvolvida e praticada. Ao fortalecer nossa habilidade de gerenciar o estresse, podemos reverter parte do impacto negativo que ele tem no córtex pré-frontal e, consequentemente, melhorar nossa capacidade de tomar decisões racionais. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar:

1. Mindfulness e Meditação: A prática regular de mindfulness e meditação têm sido associadas a uma redução dos níveis de cortisol no corpo. Quando você pratica a atenção plena, aprende a focar no presente e a observar seus pensamentos e emoções sem julgamento. Isso pode ajudar a reduzir a reatividade da amígdala ao estresse e a fortalecer o córtex pré-frontal, melhorando a capacidade de tomar decisões equilibradas.

2. Exercício Físico: A atividade física regular é uma das formas mais eficazes de reduzir o estresse. O exercício ajuda a liberar endorfinas, neurotransmissores que promovem uma sensação de bem-estar. Além disso, o exercício físico tem sido associado ao aumento do volume do córtex pré-frontal, contribuindo para uma melhor capacidade de resolução de problemas e tomada de decisão.

3. Sono Adequado: O sono é crucial para a função cerebral saudável, incluindo a capacidade de lidar com o estresse. A privação do sono pode aumentar os níveis de cortisol e diminuir a atividade do córtex pré-frontal. Garantir um sono de qualidade pode ajudar a restaurar o equilíbrio hormonal e melhorar a função cognitiva.

4. Técnicas de Respiração: Praticar técnicas de respiração profunda pode ativar o sistema nervoso parassimpático, que é responsável por acalmar o corpo após uma resposta ao estresse. Ao desacelerar a respiração e se concentrar nela, você pode reduzir a ativação do sistema de “luta ou fuga” e promover uma sensação de calma, facilitando a tomada de decisões racionais.

5. Reestruturação Cognitiva: Aprender a identificar e desafiar pensamentos negativos ou distorcidos pode ajudar a reduzir a resposta ao estresse. A reestruturação cognitiva é uma técnica usada na terapia cognitivo-comportamental (TCC) que envolve a substituição de pensamentos negativos por perspectivas mais equilibradas. Ao fazer isso, você pode diminuir a reatividade emocional e melhorar a capacidade de pensar com clareza.

O Impacto na Tomada de Decisão

Então, como exatamente essas estratégias de lidar com o estresse se traduzem em uma melhor tomada de decisão? Ao reduzir os níveis de cortisol e a ativação da amígdala, você abre espaço para que o córtex pré-frontal desempenhe seu papel de maneira mais eficaz. Isso significa que você pode:

  • Avaliar Melhor as Opções: Com um córtex pré-frontal mais ativo, você pode pesar os prós e os contras de cada opção de forma mais equilibrada, considerando as consequências a longo prazo em vez de buscar gratificação imediata.
  • Controlar Impulsos: A tomada de decisão racional envolve o controle de impulsos e a resistência a reações emocionais imediatas. Quando o córtex pré-frontal está funcionando bem, você é mais capaz de resistir à tentação de tomar decisões impulsivas ou baseadas no medo.
  • Pensar com Clareza em Situações de Pressão: Ao praticar o gerenciamento do estresse, você se torna mais resiliente e capaz de manter a calma em situações desafiadoras. Isso permite que você mantenha uma visão mais clara e objetiva, mesmo quando está sob pressão.

A habilidade de lidar com o estresse é como um músculo que pode ser fortalecido com a prática. E a recompensa é significativa: uma melhor capacidade de tomar decisões racionais, tanto na vida pessoal quanto na profissional. A prática de técnicas como mindfulness, exercício físico, respiração controlada e reestruturação cognitiva pode ajudar a acalmar a resposta ao estresse, mantendo o córtex pré-frontal ativo e funcionando de maneira ideal.

Lembre-se de que o estresse faz parte da vida, mas não precisa ditar nossas ações. Ao aprender a gerenciá-lo, podemos recuperar o controle de nossas decisões e nos tornar mais conscientes e equilibrados na maneira como abordamos os desafios. Portanto, da próxima vez que se encontrar em uma situação estressante, experimente aplicar algumas dessas estratégias. Você pode se surpreender com a diferença que faz na qualidade das suas decisões.

Conclusão

O estresse pode ser um fator debilitante na tomada de decisões, mas não precisa ser. Ao aprender a gerenciar o estresse e a fortalecer nossa resiliência, podemos melhorar a função do córtex pré-frontal, que é fundamental para decisões racionais e ponderadas. A prática de mindfulness, exercício físico, sono adequado e reestruturação cognitiva são ferramentas valiosas para ajudar a lidar com o estresse e, em última análise, melhorar a maneira como tomamos decisões. Então, invista em estratégias para gerir o estresse e veja como isso pode transformar sua vida e suas escolhas.

Colunista:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *