Entre o Sucesso e o Preconceito: A Vida de Quem Empreende Sendo Mulher. Por Tatiana Lautner

Empreender no Brasil é um desafio por si só, mas quando falamos da mulher empreendedora, os obstáculos ganham novas camadas de complexidade. De um lado, o país testemunha um crescimento expressivo de mulheres à frente de negócios, impulsionadas pelo desejo de autonomia, flexibilidade e realização profissional. De outro, elas ainda enfrentam barreiras estruturais que tornam a jornada mais árdua, revelando contradições que evidenciam o peso do gênero na construção de uma trajetória empresarial.

Uma dessas contradições se manifesta na expectativa de que a mulher empreendedora consiga equilibrar todas as esferas da vida com maestria. A sociedade espera que ela seja uma líder inspiradora, inovadora e resiliente, mas, ao mesmo tempo, exige que desempenhe com excelência os papéis tradicionalmente atribuídos ao feminino, como o cuidado com a família e a casa. Assim, enquanto o empreendedorismo masculino costuma ser visto como um caminho natural de crescimento, o feminino frequentemente é interpretado como um desvio ou uma necessidade, muitas vezes surgindo como resposta a dificuldades no mercado formal de trabalho.

O acesso a financiamento e a oportunidades também escancara as diferenças entre homens e mulheres no mundo dos negócios. Estudos mostram que empreendedoras enfrentam mais dificuldade para conseguir crédito, são questionadas com mais frequência sobre a viabilidade de seus projetos e recebem menos investimentos. Mesmo demonstrando competência e inovação, muitas ainda precisam provar, repetidamente, que são capazes. O preconceito se materializa em reuniões onde são tratadas com condescendência, em contratos que demoram mais para ser fechados e em portas que se abrem com muito mais esforço do que para seus pares masculinos.

Além disso, existe uma cobrança silenciosa, mas constante, sobre a forma como a mulher deve se portar no ambiente dos negócios. Se ela é firme, pode ser considerada autoritária; se demonstra sensibilidade, pode ser vista como frágil. A exigência de um comportamento equilibrado e socialmente aceito faz com que muitas passem anos moldando sua postura para se encaixar em padrões que, ironicamente, não são impostos aos homens.

Apesar de todas essas dificuldades, as mulheres continuam empreendendo, transformando mercados e inovando em diversos setores. Criam redes de apoio, buscam conhecimento e encontram maneiras de crescer, mesmo sem as condições ideais. Seu protagonismo é uma resposta direta às adversidades, e sua resiliência, uma prova de que o empreendedorismo feminino não é apenas uma tendência passageira, mas uma realidade que merece ser fortalecida.

A questão que fica é: até quando essas barreiras precisarão ser superadas de forma isolada? O Brasil tem avançado na valorização da mulher no empreendedorismo, mas ainda há muito a ser feito para que a igualdade de oportunidades seja, de fato, uma realidade. É necessário que o ambiente de negócios evolua, que os incentivos sejam ampliados e que o olhar sobre a mulher empreendedora mude. Somente assim será possível romper as contradições que ainda persistem e abrir caminho para um futuro onde empreender seja uma escolha e não uma luta constante por espaço e reconhecimento.

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