
Introdução
No universo dos filmes, muitas vezes a gente se apaixona não só pela trama, mas também pela complexidade das personagens. E quando o assunto é a personagem interpretada por Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui, a gente tem muito o que conversar. Essa personagem vai muito além de uma simples figura na tela – ela é um retrato vivo das dores, lutas e vitórias que fazem parte do ser humano. Neste artigo, vamos mergulhar nos aspectos psicológicos que compõem essa figura tão marcante e entender como o filme explora, de forma profunda e sensível, temas como trauma, resiliência e busca por identidade.
Você já parou para pensar em como as experiências traumáticas podem moldar a nossa personalidade? Em Ainda Estou Aqui, a personagem de Fernanda Torres passa por uma jornada intensa de luto e transformação. A perda traumática – algo que vai além do que qualquer um imagina – é o ponto de partida para uma história de resistência e descoberta pessoal. É como se a dor fosse um catalisador, impulsionando a personagem a se reinventar e, ao mesmo tempo, a carregar consigo as cicatrizes do passado.
O filme, ambientado num contexto histórico delicado, utiliza essa experiência pessoal para abordar temas universais. E é justamente nessa complexidade que a personagem se torna tão rica e interessante. “Ainda Estou Aqui” é um filme brasileiro de 2024 dirigido por Walter Salles que conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025, marcando a primeira vitória do Brasil nessa categoria. O longa conta a história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, uma mãe e ativista que enfrenta o desaparecimento de seu marido durante a ditadura militar no Brasil.
Trauma e Luto
Não é segredo que perder alguém amado pode mudar completamente nossa forma de ver o mundo. No caso da personagem, o desaparecimento do marido – que simboliza não só uma perda pessoal, mas também a injustiça histórica vivida durante a ditadura – desencadeia um processo de luto que vai muito além da tristeza comum.
O trauma, nesse contexto, não é apenas uma emoção passageira. Ele se instala, transforma a forma de agir e de sentir, e deixa marcas que, por vezes, são difíceis de apagar. Mas o que é realmente impressionante é a maneira como essa dor é retratada no filme. É exposta em toda a sua intensidade, permitindo que o público se identifique e compreenda a profundidade de cada sentimento. Essa representação do luto vai além de um simples drama pessoal. Ela é um espelho das feridas abertas pela história do país, trazendo à tona memórias coletivas que muitas vezes preferimos esquecer. Através dessa experiência, o filme nos convida a olhar para dentro e refletir sobre como o passado pode influenciar nosso presente, moldando nossa identidade de maneiras inesperadas.
Resiliência e Força Interior
A grande sacada do filme – e da atuação de Fernanda Torres – é mostrar que, mesmo diante da dor, é possível encontrar uma força interior capaz de transformar o sofrimento em algo poderoso. A resiliência da personagem é, sem dúvidas, um dos pontos altos do enredo. Ela não se deixa definir pela tragédia. Pelo contrário, usa a dor como combustível para lutar, para se reinventar e, principalmente, para dar voz à memória daqueles que ficaram para trás. Essa capacidade de se reerguer, de transformar a vulnerabilidade em força, é algo que ressoa profundamente com o público, pois nos faz lembrar que todos nós, em algum momento, passamos por desafios que parecem intransponíveis.
O filme nos mostra que resiliência não é apenas resistir, mas sim aprender a florescer em meio à adversidade. É a capacidade de transformar o sofrimento em algo que impulsiona a pessoa a buscar justiça, a se posicionar e a lutar por mudanças. E é justamente essa mensagem que torna a personagem tão inspiradora: ela é a prova de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a luz da determinação pode brilhar com força.
O Conflito Interno de Sentir e Lutar
O filme apresenta uma mistura complexa de emoções, onde sentimentos de tristeza profunda convivem com momentos de raiva, determinação e, surpreendentemente, esperança. Essa dualidade é essencial para tornar a personagem mais humana e real. Afinal, quem é que nunca se sentiu dividido entre diferentes emoções? Em certos momentos, o luto e o trauma parecem quase dominar, fazendo com que a dor seja insuportável. Em outros, surge uma força inesperada, um impulso de lutar contra a injustiça e de buscar um novo significado para a vida.
O conflito interno entre esses extremos cria um personagem cheio de nuances e contradições. É como se a personagem estivesse, ao mesmo tempo, em guerra consigo mesma – disputando a melhor forma de lidar com a perda, de honrar a memória e de seguir em frente. Essa tensão constante entre a vulnerabilidade e a determinação faz com que cada cena seja carregada de significado e emoção, envolvendo o público em uma experiência única e transformadora.
Redescobrindo Quem Somos
Outro aspecto profundamente explorado no filme é a busca por identidade. A experiência traumática obriga a personagem a repensar seu papel no mundo. Ela não pode mais ser definida unicamente como esposa, mãe ou ativista – ela se vê obrigada a descobrir quem é de verdade, sem os rótulos que a sociedade ou a própria história lhe impuseram.
Essa jornada de autodescoberta é repleta de momentos de introspecção e questionamento. A personagem precisa lidar com a dor do passado, mas também abraçar a possibilidade de renascer. Essa busca pela identidade é, na verdade, um reflexo do que muitos de nós vivemos em diferentes momentos da vida. O filme sugere que a identidade não é algo fixo ou pré-determinado. Ela se constrói ao longo do tempo, por meio de escolhas, desafios e, principalmente, pela coragem de encarar nossos próprios demônios. Assim, a trajetória da personagem se torna um convite para que cada um de nós reflita sobre sua própria história e encontre, mesmo nas situações mais difíceis, a possibilidade de se transformar e crescer.
Conflito entre a Dor Interna e a Luta Externa
A personagem, mesmo imersa em um sofrimento íntimo e pessoal, precisa lidar com as expectativas e pressões de um cenário político e social muito maior do que ela mesma. Por um lado, a personagem sente o peso de sua dor de forma muito íntima e pessoal; por outro, ela precisa se tornar um símbolo, uma voz que represente a luta contra a opressão e a injustiça histórica. Essa tensão é algo que muitos de nós já sentimos em diferentes momentos da vida, quando a necessidade de manter uma aparência forte colide com o desejo de mostrar nossas verdadeiras fragilidades.
No contexto do filme, essa dualidade é explorada de forma extremamente sensível. A personagem vive um constante embate entre o desejo de se isolar para proteger seu íntimo e a necessidade de se expor para lutar por aquilo em que acredita. É uma batalha que, muitas vezes, parece impossível de vencer, mas que, ao mesmo tempo, reforça a ideia de que a vulnerabilidade pode ser uma fonte de força e autenticidade.
Conclusão
Através da personagem interpretada por Fernanda Torres, somos convidados a explorar os recantos mais profundos da mente e do coração humano. Desde o trauma e o luto que marcam o início de sua jornada, passando pela resiliência que a impulsiona a seguir em frente, Ainda Estou Aqui nos dá uma verdadeira aula de humanidade.
O filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Veneza em setembro de 2024, onde ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Foi lançado no Brasil em novembro de 2024 e ganhou elogios. Além do Oscar, “Ainda Estou Aqui” recebeu outros prêmios e indicações. A vitória no Oscar foi celebrada como um marco para o cinema brasileiro, já que é um prêmio inédito, o sucesso do filme também se refletiu nas bilheterias, com mais de 5,2 milhões de ingressos vendidos.
Ao assistir ao filme, a gente sente que não está sozinho em nossos desafios. A dor, a perda e as dúvidas são sentimentos universais, mas a forma como escolhemos lidar com eles pode transformar completamente a nossa trajetória.
O que torna a história ainda mais impactante é a forma humana com que ela é contada. Em um mundo onde muitas vezes tentamos esconder nossas fraquezas, Ainda Estou Aqui nos lembra que são essas mesmas fragilidades que nos fazem ser quem somos.
Por mais difícil que seja o caminho, é possível transformar a dor em uma força transformadora. Cada lágrima, cada momento de angústia, pode se tornar um passo rumo a uma nova descoberta – tanto pessoal quanto coletiva. E essa é uma lição que vale a pena ser levada para a vida.
Portanto, se você ainda não assistiu a Ainda Estou Aqui, vale a pena reservar um tempo para mergulhar nessa história. Além de uma atuação impecável de Fernanda Torres, o filme traz reflexões que nos ajudam a compreender melhor os desafios internos que todos nós enfrentamos. Ele nos mostra que, mesmo diante das maiores adversidades, a essência humana tem uma capacidade incrível de se reinventar, de se fortalecer e de lutar por um futuro onde a memória e a justiça caminhem lado a lado.
E então, que tal refletir um pouco sobre a sua própria jornada? Talvez, assim como a personagem, você também encontre em meio ao caos a oportunidade de descobrir uma nova forma de ser, mais autêntica e verdadeira. Afinal, a vida é uma constante transformação, e cada experiência – por mais dolorosa que seja – pode ser o pontapé inicial para uma nova história de superação.
Espero que esse mergulho nos aspectos psicológicos da personagem tenha despertado em você novas reflexões e, quem sabe, até inspirado a olhar para as próprias experiências de vida com outros olhos. Afinal, a arte do cinema é justamente essa: nos conectar com a nossa essência e nos mostrar que, apesar de todas as dificuldades, sempre há uma chance para recomeços e para transformar a dor em algo belo e significativo.
Colunista:
